domingo, 10 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Logo de cara a tensa narrativa em primeira pessoa feita pelo Capitão Nascimento (Wagner Moura), no meio de uma troca de tiros, dita qual será o rumo do aguardado Tropa de Elite 2, que estreou nos cinemas na última sexta-feira, 8. O barulho dos estalidos das balas, aliás, é seco, limpo, alto, evidenciando, nos primeiros minutos, o ótimo trabalho de sonoplastia presente no longa de José Padilha.

Não bastasse o tiroteio inicial, em seguida, o público acompanha a rebelião em Bangu 1, comandada pelo traficante Beirada (Seu Jorge), e inspirada na carnificina que ocorreu no mesmo local e na qual o traficante Fernando Beira-Mar matou o rival Uê. A seqüência se alterna com a aula de história do professor Fraga (Irandhir Santos) - mais tarde Deputado Federal que luta fervorosamente pelas causas dos Direitos Humanos – que fala, aos seus alunos, sobre o sistema prisional brasileiro.

O ocorrido em Bangu 1, bem como suas conseqüências levam o então tenente coronel Nascimento a ser subsecretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, numa manobra que priorizou, sobretudo, a corrida eleitoral. O explosivo capitão Nascimento do primeiro filme, legítimo líder do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), agora veste terno e gravata e aparece com cabelos grisalhos, sorumbático, cansado, descontente com os caminhos de sua profissão. Mesmo assim, o personagem tem alguns lampejos do “velho” capitão arrancando, em alguns momentos, falas do espectador e personificando uma espécie de “Rambo” brasileiro. Para ele, melhor que os presos se ataquem e se matem durante uma rebelião, como a de Bangu 1.

Assinado pelo diretor e por Bráulio Mantovani, o roteiro é uma metralhadora de críticas às mais diversas instituições públicas e sociais do País. A história aborda a formação de uma milícia comandando por policiais e que consegue angariar votos em troca de favores políticos. Na direção, José Padilha também opta oir ousar mais do que no primeiro filme. Há belo planos como aquele que revela, de baixo para cima, uma favela bastante extensa, cheia de “gatos” nas fiações elétricas e aquele que mostra o “Pelicano" da Polícia Civil dar um vôo rasante sobre um campo de futebol improvisado, num claro arroubo “blockbuster”.
Com um desfecho polêmico, o inteligente Tropa de Elite 2 coloca, em ano de eleições, todo mundo na mesma “roda”: deputados, governadores, jornalistas e policiais, apelando para uma linguagem um tanto caricata sem, porém, perder a sua legitimidade.

Por Pedro Augusto Barbosa